quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

IN MEMORIAM - JOAQUIM DA COSTA GONÇALVES





JOAQUIM DA COSTA GONÇALVES - MOÇAMBIQUE - 1971/1973
Completam-se hoje quarenta anos da sua morte. 
No dia 2 de Janeiro de 1973 perdeu a vida, em combate em defesa da Pátria, em Moçambique, o Avintense JOAQUIM DA COSTA GONÇALVES. 
A sua morte aconteceu na estrada que liga Toma de Nairoto e o Luma. 
Pertenceu à Companhia de Caçadores 3310 do BCAÇ 3834.
Residia em Espinhaço e era conhecido como Quim Penetra. Está sepultado em Valbom. A mãe (a Ti Bira) vive em Soutulho .
No próximo Sábado, dia 5, será celebrada missa pela sua alma na Igreja Paroquial de Avintes.
PAZ À SUA ALMA


A respeito do Joaquim Gonçalves,  um seu camarada de armas, o Zé Cardoso, a residir actualmente nos Estados Unidos, escreveu o seguinte texto:
“Pouco na vida afecta o meu estado emocional tanto como as lembranças da nossa guerra. Raríssimos são os acontecimentos que me consternam, por vezes até às lágrimas, tanto quanto os que se relacionam com os nossos Camaradas de Guerra que por lá ficaram. E o Quim Gonçalves (lembro-me muito bem do Joaquim da Costa Gonçalves), o Básico, é um deles. 
Curiosamente, de todos os "Caídos," o "Guerrilheiro" ali dos lados das Taipas em Guimarães, o Zé Gonçalves de Lavra, Matosinhos e o "Básico" de Avintes, they all strike my memory in a very powerful way.
Mas é ao "Básico" que me refiro agora e, quem me dera ter o tempo necessário para o fazer adequadamente como o Quim Gonçalves o merecia.
Quero lembrar o seguinte:
O Básico era "a smart guy", como na gíria militar se dizia, "um reguila". E em nada me surpreende a afirmação do Moreira ao referir-se ao "escapanço" do Básico naquele fim-de-semana debaixo dos assentos do autocarro. Sei que ele era capaz de isso e muito mais.
Como eu era ali de Vila do Conde, o Básico via em mim um vizinho; e então vinha até mim, muitas vezes para desabafar, "na enfermaria" de Omar ou em Toma do Nairoto, falando das nossas terras e gente dos arredores do Porto. Todas as conversas acabavam referindo-se a uma filhita que tinha, cabelos pretos e compridos, cuja foto quase sempre trazia consigo. E várias vezes o ouvi, olhos embaciados, referindo-se àquela menina que, com uma muito indesejada ousadia, chegou a dizer-me tanto temer não voltar a ver.
Não estou em casa presentemente para o confirmar, mas creio ter fotos do Quim Gonçalves.
 Éramos jovens. Ele era o básico da companhia e não teria de "ir para o mato", o que lhe daria uma vantagem sobre nós, os operacionais. Portanto, assim lhe dizia eu muitas vezes: " não tenhas medo; claro que vais voltar a vê-la".
O Básico gostava muito de "imitar" o 1º. Sargento, aquele que esteve connosco em Pombal na Primavera de 2008.
Creio que era trolha de profissão. Não foi ele quem construiu em Toma do Nairoto aquele "monumento" da CCAÇ 3310 em que, após ter devotadamente posicionado um lugar a cada "Caído" que a Companhia tinha tido até então, teve a ousadia de deixar um lugar em "branco" e até sugerir a quem se destinava tal placa?  (!!). 





Não foi ele quem dirigiu as obras de construção, em blocos dos postos de sentinela em Toma do Nairoto? E quem não se lembra do destemido cantar do Básico (até as moscas fugiam!!!) que do fundo dos pulmões para bem longe sacudia a dor da ausência?




A nossa comissão, não houvera "mata bicho", terminaria em fins de Janeiro de 1973. Estaria quase a chegar ao fim e a minha promessa de que voltaria a ver a filhita que deixara para trás, tudo indicava, estaria prestes a cumprir-se. O Quim Gonçalves voltaria a casa e às suas gentes dos arredores do Porto. Mas... ai destino que és tão mau... o Quim também tinha em si uma boa dose de aventureiro e não queria regressar e acabar por contar histórias que outros contam. Ele seguia numa coluna de Toma de Nairoto para Luma com o objectivo de concluir obras no aquartelamento, na zona da cozinha. E foi então que as coisas se deram. O Básico, quem o diria, que procurara um pouquinho mais de segurança no último unimog da coluna… não voltaria a ver a menina dos seus olhos, aquela menina de poucos anitos e cabelos pretos e longos que ele adorava tanto”.









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