sábado, 21 de abril de 2012

FRANCISCO LOPES DOS SANTOS - Afinal só passaram 51 anos


Mensagem de Francisco Lopes dos Santos, Soldado condutor da CCAÇ 94, Negage, Ambriz e outros, Angola , 1961/63, com data de 20 de Abril de 2012



O CHICO RATO
Depois de mais um fim de semana a recarregar baterias, aproveitando para namoriscar, recolher notícias da “Terra”, rever  a família e amigos, mas sem deixar de ir ao Parque Joaquim Lopes encher o “EGO” pelo brilhantismo que  dava o meu “ Avintes” e motivos de conversa para toda a semana. Estávamos então no dia 18 de Abril de 1961, e toca a levar o “farnel” que tão carinhosamente a minha MÃE preparava com os poucos recursos que tinha, mas com todo o AMOR que me dava. Segui a pensar no próximo fim de semana dali a 15 dias, como habitualmente.
A preocupação começava a instalar-se nas famílias dos militares de então; tinha rebentado a “Guerra” em Angola e andávamos todos com o coração nas mãos, sem saber como, porquê, e o que teria originado aquela situação. A ignorância imposta pelo regime à sociedade, fazia-nos crer que altos valores Patrióticos nos obrigavam a deslocar para  defender a PÁTRIA nas Províncias Ultramarinas, o que impôs à sociedade civil um clima de grande preocupação pelos seus FILHOS.
Saco cheio há que fazer o percurso até Braga onde me iria apresentar no Quartel das Carvalhas para continuar o meu serviço militar. Preparado para relatar os acontecimentos desse fim de semana, eis que reparo que muitos colegas já tinham vestida a farda amarela que se recebia quando éramos mobilizados; veio a noticia que mais temia - chegou um 1º. Cabo com uma mensagem dizendo que me tinha de dirigir de imediato ao Regimento de Infantaria 8, também em Braga para que me fosse distribuída a farda amarela. Estava definitivamente mobilizado para Angola e o navio zarpava do Tejo logo no dia 21. Depois de me ser distribuído o fardamento pedi ao meu Comandante para me deixar vir a casa porque os meus familiares e a namorada não sabiam de nada e eu não me tinha despedido deles.
Ele respondeu: - daqui não sai ninguém;
- Saí há pouco de casa – disse eu;
- Se eu te deixar ir, tu voltas?
- Volto sim, meu Comandante – respondi;
Então autorizou-me a sair.
Havia que arranjar forma de chegar o mais rápido possível a casa; como? Pus-me à boleia e lá apareceu a solidariedade dos Portugueses - apareceu um carro de que nunca mais esqueci a marca – um SIMCA  ARONDE  - e o condutor fez o favor de me trazer até ao Porto e ainda me ofereceu 2,50 escudos (vinte e cinco tostões) para pagar o bilhete da camioneta do Porto para Avintes.
Chegado a Avintes, saio na paragem que havia junto ao Café Guarani; era habitual os jovens ficarem no passeio do Cabra, depois do trabalho, quase em frente ao café; um deles era o Samuel Borges que, ao ver-me de farda amarela, se dirigiu de imediato a casa dos meus pais para os avisar de que eu estava a chegar e que eu ia para Angola.
Quando cheguei a casa só ouvia gritos de desespero da minha mãe.
No dia 20, tal como havia prometido ao Comandante, voltei a Braga para seguir para Lisboa, tendo embarcado na manhã do dia 21 de Abril de 1961 no navio “Niassa”.
Daí para a frente, em quase todos os navios que seguiram para África, seguiam jovens de Avintes.
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DOIS ANOS DEPOIS
No dia 2 de Maio de 1963 chego a Avintes, perto da meia-noite e novamente volto a encontrar o Samuel Borges que, ao ver-me, de novo volta a dirigir-se  em direcção a casa de meus pais, desta vez a levar a boa nova de que eu acabava de chegar são e salvo.






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